quarta-feira, janeiro 31, 2007

Somos tão pequenos diante da imensidão do infinito...

Essa torre fica no Sítio Experimental do Programa LBA*, localizado no Km 34 de um ramal que começa no km 50 da BR-174 (Manaus/AM -Boa Vista/RR). Ela tem 53 metros de altura (com um duplo clique é possível ver a foto no tamanho original) e quem se aventura a subir até o topo, onde estão os equipamentos para a medição dos parâmetros climáticos acima e no interior da mata, tem uma das mais belas vistas da floresta amazônica, esse imenso tapete verde que nos deixa ainda mais miúdos.
Pois é, eu me aventurei. A subida é tranqüila, não precisamos olhar para baixo. Agora, a descida, aí sim vem o sufoco. O friozinho no estômago é inevitável. Mas eu venci o medo. Na foto, a prova da coragem (ou da "insanidade"?). Esse sorriso simboliza, na verdade, o meu nervosismo. Tive um acesso de riso quando me dei conta de onde estava.
Falando sério, a floresta é, sem dúvida, uma fonte de inspiração para a vida. Ainda vou escrever algo sobre isso, aguardem.

* O Programa LBA (Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia - ou Large Scale Biosphere-Atmosphere Experiment in Amazonia) é uma iniciativa internacional de pesquisa liderada pelo Brasil. Planejado para gerar novos conhecimentos sobre os ecossistemas amazônicos, o programa possui 14 torres espalhadas na Amazônia brasileira e os resultados de suas pesquisas têm sido fundamentais para a compreensão de questões cruciais, entre elas, as mudanças climáticas globais.

terça-feira, janeiro 30, 2007

O desmatamento da Amazônia é um problema mundial

Não se trata apenas do ritmo em que as coisas acontecem, mas sim de quando elas vão parar, de quando o processo será irreversível
THOMAS LOVEJOY, ambientalista e pesquisador, analisando as questões do desmatamento da Amazônia e do efeito estufa

Excelente a entrevista com o pesquisador e ambientalista Thomas Lovejoy no programa Roda Viva, exibido ontem à noite (29-01-2007) na TV Cultura. Para quem não conhece, Lovejoy, 61 anos, é considerado um dos formuladores mais importantes do ambientalismo internacional e pioneiro na utilização do termo biodiversidade. Sua relação com o Brasil começou em 1965, quando visitou a Floresta Amazônica pela primeira vez. Desde então, há 40 dedica-se a estudar o desmatamento e seus efeitos, vindo ao país várias vezes ao ano para estudar a fragmentação florestal e ministrar cursos e palestras. Foi responsável, em 1979, pela implantação da Área de Relevante Interesse Ecológico (ARIE), criada pelo Governo Federal, que integra o Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais (PDBFF), programa de cooperação científica entre o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) e o Smithsonian Institution dos EUA. O PDBFF é um dos únicos estudos de longo prazo a avaliar os impactos da atividade humana na Amazônia. Esse projeto rendeu-lhe a condecoração mais importante do país: a Ordem do Rio Branco, em 1988. Foi o primeiro ambientalista a receber a Comenda. Confira alguns trechos da entrevista:

Sobre a afirmação da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, de que “o Brasil conseguiu diminuir a velocidade com a qual a floresta amazônica vem sendo destruída”
Não conheço os detalhes, mas para mim não seria uma surpresa se não houvesse embasamento e se a informação for imprecisa. A verdade vai se revelar.
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Quero dizer uma coisa válida para a emissão do efeito estufa e também para o desmatamento: não se trata apenas do ritmo em que as coisas acontecem, mas sim de quando elas vão parar, de quando será irreversível.
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Estou muito preocupado. A Amazônia tem oficialmente 17% de desmatamento. Está bem perto de uma situação irreversível, na qual não poderá manter o ciclo aquático. A diferença entre os dias de hoje e 25 anos atrás é que sabemos que o tamanho mínimo de floresta para resistir aos efeitos da seca precisa ser suficiente para resistir ao desmatamento, para resistir a um ano com El Nino ou ao que ocorreu em 97/98, que foi um período muito seco. No ano passado, soubemos que a mudança climática pode causar um sistema independente de seca. Então, precisamos de um tamanho mínimo suficiente de floresta, para resistir a esses três fatores. É uma questão que deveria ter destaque na pauta em Brasília. O futuro do Brasil sem a chuva que mantém a Amazônia e contribui com 40% das chuvas no país é muito mais difícil, digamos, do que os ecossistemas mantidos.

Sobre o ritmo do desmatamento, dos anos 70 para cá
Digamos que, quando cheguei, em 1975, desembarquei em Belém. Havia dois milhões de pessoas vivendo na Amazônia Brasileira. E havia uma estrada Belém-Brasília, as pessoas já viam com muita surpresa a ocupação e o desmatamento ao longo da estrada, as pessoas sabem o lado negativo da história desde então. E é perturbador, é um grande desafio. Mas as pessoas não sabem o que aconteceu de positivo. Literalmente, somando todas as novas áreas de proteção criadas pelos governos federal ou estadual, incluindo áreas indígenas, cerca de 40% da Amazônia Brasileira está sob alguma forma de proteção. Isso é um grande feito. Eu não sou o primeiro a dizer que não é suficiente. Quem se preocupa com o futuro da Amazônia deve pensar em mantê-la como um sistema, porque existe vegetação suficiente nos lugares certos, para manter o ciclo aquático da Amazônia, que é importante não só para a Amazônia, mas também para o restante do Brasil, já que ela participa com 40% das chuvas.

Sobre as perdas irreparáveis para a Amazônia
Eu diria que em algumas partes da Amazônia seria muito difícil recuperar a floresta numa forma que lembre o seu estado original. Mas também há grandes áreas em que isso é possível. Precisamos passar muito tempo pensando nessas pessoas e como elas podem viver bem na Amazônia, com menos impacto sobre a floresta. Acho que as cidades são fundamentais para isso, porque boa parte desses 20 milhões está em cidades. O Estado do Amazonas, cuja capital é Manaus, tem um dos menores índices de desmatamento porque a Zona Franca atraiu as pessoas à cidade. Quem se preocupa com o verde, como eu, na verdade, precisa se preocupar muito com a questão urbana, garantindo qualidade de vida para essas pessoas.

Sobre a adoção de uma política integrada para a Amazônia pelo governo brasileiro, idéia defendida pelo climatologista Carlos Nobre.
Acho uma idéia excelente. Tem um instituto cujo objetivo seja encontrar maneiras sutis de proporcionar renda para as pessoas que vivem na AM. Também acho que seria possível criar uma coisa que é necessária a tempos: que é o modelo do ciclo aquático da AM., ao qual todos os projetos de desenvolvimento devam ser submetidos como um teste, para analisar seus efeitos sobre o ciclo. Você descobre as conseqüências ates de fazer alguma coisa. Precisaremos de uma mistura de novas formas de atividades econômicas. Com o mínimo de impacto. É preciso uma forte vontade política, além de incentivos econômicos para atrair pessoas para fazer as coisas certas, não as erradas, posso pensar até em serviços de ecossistemas, pagamentos de acordos etc. Há muito espaço para criatividade para ajudar a resolver o problema.

Sobre as áreas de proteção e a fragmentação que a floresta amazônica ainda pode suportar
O que me causou essa preocupação foi o grande debate científico quando não sabíamos que tamanho deveria ser a área de proteção para manter a representatividade no caso da floresta amazônica. Minha preocupação era que, sem dados, a polêmica continuaria e a questão seria ignorada. Por isso, comecei a pesquisa com meus colegas brasileiros. O interessante é que só executando esse programa de pesquisas, fizemos todo mundo pensar na necessidade de áreas de proteção maiores. Literalmente, todas as áreas de proteção criadas desde que começamos a discutir as que iríamos pesquisar foram de dimensões substanciais. De qualquer forma, os cientistas têm vindo lentamente e agora temos provas de que ter áreas de proteção maiores era a idéia certa. Foi uma idéia intuitiva, mas agora está embasada. Claro que isso nos leva a pensar nos fragmentos que já existem, inclusive de mata atlântica. Todos têm algum valor e podem ter mais valor se conseguirmos conectá-los. É muito interessante a história da preservação aqui no Brasil. Passou da fase de pensar em parques aqui e ali. O Brasil em muitos sentidos esteve na dianteira do pensamento e da ação conservacionista.

Sobre o papel dos EUA na solução das graves questões ambientais no século XXI
É evidente que os EUA ainda são a maior a economia do mundo. O país tem um papel muito importante e não exerce esse papel tão bem quanto há 15 anos. Uma coisa trágica lá é que o ambiente se tornou uma questão partidária. Os democratas protegem o meio ambiente e os republicanos praticamente ignoram ou são contrários à proteção, embora historicamente – e essa é a grande ironia – boa parte da legislação ambiental americana tenha surgido em governos republicanos.
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Esperamos que a ênfase do partido volte a ser essa. Acho que nas próximas eleições essa questão será muito importante, como não acontece há muito tempo. Não dá mais para ignorar a questão da mudança climática, ela pode ser percebida no quintal das pessoas, no que vem acontecendo no ártico. Acho que veremos uma grande mudança. Al Gore lançou um filme que está sendo exibido nos cinemas comuns sobre mudanças climáticas. E o filme vem chamando muito a atenção. Então, a minha esperança é que os EUA voltem a se estabelecer como líder importante na questão ambiental e que dêem um salto em relação aos últimos anos.

sexta-feira, janeiro 26, 2007

Chávez e a imprensa

Leia o texto de Marcelo Tavela, publicado no site Comunique-se.

O que os jornalistas pensam de Chávez?
Marcelo Tavela

Líderes dos países membros do Mercosul – e de outras nações da América do Sul – estiveram no Rio de Janeiro para participar da XXXII Cúpula de Chefes de Estado do bloco econômico, dias 18 e 19/01. E, atrás deles, jornalistas do Brasil e do mundo ansiosos pelo o que será acertado na reunião. Mas também dando atenção especial a um dos participantes do encontro: Hugo Rafael Chávez Frías.

O presidente venezuelano é hoje um dos principais personagens da política sul-americana, com decisões e influência que transbordam as fronteiras do país. Chávez dá prioridade estratégica à mídia, seja por formar redes de comunicação na Venezuela e fora dela, seja por sua postura com os jornalistas.

Carisma
"É evidente que ele adora dar entrevista", afirma Wilson Tosta, repórter do Estado de S. Paulo que seguiu Chávez desde sua chegada ao aeroporto na manhã de quinta-feira (18/01). "E sabe trabalhar a mídia. Tem noções de marketing. Falou com todo mundo que estava na porta do hotel. Quando ia entrando, alguém gritou ‘soy de Chile’. Ele deu meia-volta especialmente para falar com o sujeito. É um cara carismático", continua.

Rafael Coimbra, da GloboNews, já esteve com Chávez em quatro oportunidades, e conta que em todas as vezes o presidente venezuelano foi muito solícito. "Ele responde tudo, sem ser reticente. É bem articulado e sabe para onde conduzir a entrevista. Mas nunca no sentido de manipular", conta.

"Nesta relação, ninguém é santo: nem Chávez nem imprensa são ingênuos", aponta Carlos Tautz, jornalista brasileiro do canal latino-americano Telesur, sediado em Caracas. "A mídia usa até critérios cinematográficos, inclusive dramaticidade, para falar de Chávez. E ele lida bem com a fome da imprensa, sabe quando mandar uma frase de efeito, tipo 'socialismo ou morte'", explica, citando o pronunciamento de Chávez em sua posse.

"Ele tem muito carisma", afirma Ricardo Villa Verde, do jornal O Dia, que esteve pela primeira vez com Chávez durante a Cúpula. "Não sei como é lá dentro, mas aqui ele é bem acessível".

Lá dentro
As recentes decisões de Chávez de nacionalizar a maior empresa de telecomunicações da Venezuela e de não renovar a concessão da Radio Caracas Televisión (RCTV), que faz oposição ao seu governo, foram criticadas por entidades como os Repórteres sem Fronteiras e a Organização dos Estados Americanos (OEA). "Considero lamentável esse tipo de censura", diz Rafael Coimbra.

A repórter venezuelana Lourdes Zuazo, da Telesur, conta que a história é diferente. "Antes de mais nada, tem que ficar claro que não é um cancelamento, mas uma não-renovação. Alguns canais de oposição na Venezuela apoiaram o golpe de estado em 2002 [em que Chávez ficou 48 horas afastado do poder], e não agem de acordo com o estipulado no contrato de concessão", explica.

Tautz corrobora: "A edição manipulada da Globo no debate entre Lula e Collor em 1989 é brincadeira de criança perto do que é a TV na Venezuela. Pregam abertamente o golpe e não têm nenhum respeito pelo governo. Mas Chavéz foi reeleito por 63% dos votos. Ele tem amplo apoio popular".

Lourdes diz que a acessibilidade de Chávez dentro da Venezuela é bem próxima do que a relatada pelos jornalistas brasileiros. "Ele é sempre sincero. Às vezes, sincero demais. Chávez não fala em termos técnicos. Usa palavras que o povo entende, e que incomodam a oposição. Dizem que não é assim que deve ser portar um presidente", relata.

Telesur
A venezuelana é bem passional ao falar sobre a televisão em que trabalha. "A Telesur é o canal da integração. Não só pelo o que é transmitido, mas pela forma de se trabalhar. São jornalistas do mundo todo trabalhando pela cooperação e solidariedade", conta.

A Telesur foi proposta pelo próprio Hugo Chávez para rivalizar com canais jornalísticos voltados para o público latino, como CNN en Español e Univisión. Foi criada pelos governos da Venezuela – o principal acionista –, Argentina, Bolívia, Cuba e Uruguai, e tem em seu conselho editorial nomes como o Nobel da Paz argentino Adopho Pérez Esquivel, o jornalista paquistanês Tariq Ali e o escritor uruguaio Eduardo Galeano. O canal já foi criticado no congresso dos EUA, e também ganhou o apelido de Al Bolivar (junção de Al Jazeera e Simón Bolivar).

"A Telesur tem a mesma estrutura de qualquer grande TV. O diferente é a orientação editorial. Buscamos atores sociais que não são ouvidos em outras redes, como integrantes de movimentos sociais", explica Carlos Tautz. "Por que um especulador de Wall Street tem mais legitimidade para falar do que um líder social?", questiona.

Imparcialidade britânica
Garantido na presidência pelo menos até 2012, Hugo Chávez ainda tomará muitas decisões que influenciarão a imprensa venezuelana e do mundo. Fica lançado o desafio aos repórteres de lidar com uma figura sobre a qual é difícil não se posicionar. Nem que seja não tomar posição nenhuma. "Lamento, mas não vou responder", desculpa-se educadamente Steve Kingstone, repórter da rede pública inglesa BBC. "São perguntas políticas, e eu nem me permito analisar política".

quinta-feira, janeiro 18, 2007

Mariposa

Por Nicolás Guillén

Quisiera
hacer un verso que tuviera
ritmo de Primavera;
que fuera
como una fina mariposa rara,
como una mariposa que volara
sobre tu vida, y cándida y ligera
revolara
sobre tu cuerpo cálido de cálida palmera
y al fin su vuelo absurdo reposara
--tal como en una roca azul de la pradera--
sobre la linda rosa de tu cara...

Quisiera
hacer un verso que tuviera
toda la fragancia de la Primavera
y que cual una mariposa rara
revolara
sobre tu vida, sobre tu cuerpo, sobre tu cara.

quinta-feira, janeiro 04, 2007

Alex Cohen

Em 2002-2003, quando morei no Rio de Janeiro, costumava ir ao Downtown para assistir aos shows de Alex Cohen. Ele interpretava canções conhecidas de cantores famosos. Depois, investiu em suas próprias composições. Confira tudo sobre ele, inclusive seu sucesso "Vai e vem", no site http://www.alexcohen.com.br/


A crise do Amor

A jornalista Talita Cícero escreveu uma matéria interessante sobre a crise do amor. Em "Não sabemos mais amar?", ela analisa esse sentimento, dos tempos de Platão a Simone de Beauvoir, afirmando que, "em meio a tantas crises existenciais, o homem contemporâneo esqueceu de sua maior virtude: o amor".

Outros trechos:

"Quando existem ideias comuns entre duas pessoas, as diferenças de personalidade continuam existindo. Há algo mais forte que ajuda a superá-las".

"Emocionalmente, mar é buscar no outro um alguém que supra nossas catências afetivas e espirituais"

"Amar está além das aparências, do corpo e da beleza exterior. Amar, para alguns filósofos, é buscar o que falta. Acabar com a carência da alma, procurar inquietar o que tanto alardeia: o vazio do espírito humano"

"Amar não é precisar do outro porque simplesmente aprecia a companhia. Amar é necessitar da presença do outro, pois as almas se completam e sozinho o mundo não tem sentido"

Você pode encontrar o texto completo na revista Filosofia - Ciência & Vida, Ano I N0 3