

"E tanto sofrimento por estar, às vezes sem nem saber, à cata de prazeres. Não sei como esperar que eles venham sozinhos. E é tão dramático: basta olhar numa boate à meia luz os outros: a busca do prazer que não vem sozinho e de si mesmo. A busca do prazer me tem sido água ruim: colo a boca e sinto a bica enferrujada, escorrem dois pingos de água morna: é a água seca. Não, antes o sofrimento legítimo que o prazer forçado."
(A descoberta do mundo, pág. 404)
MENTIRA
Acreditei na vida, e foi assim
que, cheia de alegria e de esperança,
deixei alimentar dentro de mim
um amor puro e ledo, de criança.
Pensei ter alcançado então, o fim
por mim tão desejado, e, sem tardança,
senti-me venturosa, escrava enfim,
julgando meu o que ninguém alcança.
Mas, aí! Tu só mentiste. E foi em vão
que tentei afogar no coração
o pranto desta mágoa que delira...
O teu amor, que tanto ambicionei
e a que tão loucamente me entreguei,
não passava, afinal, de uma mentira!...
COMO EU TE AMO
Eu te amo em dimensões de abismo e de altitude,
onde a alma ainda alcança o azul da plenitude,
no limite do ideal, além do próprio ser.
Eu te amo dia a dia, em nímia beatitude,
desde a luz da manhã à luz do anoitecer;
eu te amo livremente, ou sem leis nem poder;
eu te amo com orgulho, e com terna atitude.
com a fé infantil, que permanece forte,
com o estranho calor dos crentes e dos santos.
E se Deus o quiser, implorando em meus prantos,
amar-te-ei, também, depois da própria morte!
Elisabeth Barret Browning, poeta inglesa
Tela de A. Modigliani
ESTE AMOR
Este amor que levamos escondido
e, por nós dois somente, partilhado;
tão fundo em nós gravado, e assim gravado,
tão longe de poder ser esquecido;
este amor só por nós dois dividido,
e, por tão dividido, eternizado
este tão doce amor, crucificado,
este amor como vento de verão,
tão
que às vezes foge, sem querer, da mão,
mas, embora mistério..., tão constante!
Poema de Marco Antonio Cajiao,
Tela El abrazo, da série Abrazos (1998),
de Cézar Correa,
poeta e artista colombianos
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ANSEIO